A necessidade de afastamento social trouxe os escritórios e as escolas para dentro de casa, ao mesmo tempo em que funcionários domésticos, quando havia, foram dispensados. Esta realidade impacta de forma significativa na rotina e na vida das pessoas e requer novas formas de organização familiar.
Estamos diante de uma excelente oportunidade para semear em crianças e adolescentes valores e atitudes colaborativas e responsáveis, que contemplem o coletivo e sejam menos individualistas. Esse aprendizado devemos levar adiante na vida, que nunca mais será como antes.
Na quarentena é importante que fique claro o papel e responsabilidades de cada um na casa e na família. Muitas vezes o individualismo, a dependência e a passividade dos filhos são reforçadas de forma inconsciente pelos pais, por meio de atitudes superprotetoras que subestimam a sua capacidade de cooperar ou de lidar com a frustração de não ter os seus desejos atendidos imediatamente e fazer o que deve ou precisa ser feito naquele momento.
Como dizia Freud, é o Princípio do Prazer x Princípio da Realidade. Para o desenvolvimento psíquico e social é importante aceitar e lidar com o fato de que o mundo não nos atenderá em nossos desejos e que todos temos direitos e deveres. Determinadas coisas precisam e devem ser feitas, independente da vontade.
Regras e limites podem coexistir com afeto e participação na vida dos filhos. Precisamos cultivar o hábito de conversas em família, criar oportunidades de debater saudavelmente opiniões e visões. Conversas sobre a importância de passarem por esta quarentena de forma harmoniosa pode fazer diferença.
É importante que nas rotinas haja tempo para a família fazer ao menos uma refeição junto. Podemos aproveitar esta fase para nos conectarmos mais conosco mesmos, com nossos familiares, com nosso parceiro/ parceira e com nossos filhos. Novos hábitos podem ser criados.
De início poderá haver resistência da parte das crianças ou adolescentes, mas aos poucos passará a ser mais natural. Relacionamentos verdadeiros e conexão profunda são frutos de uma construção trabalhosa, mas que pode ser feita de forma amorosa, gentil e constante.
Em uma casa todos devem colaborar com as tarefas que são de interesse e benefício comum e isso deve fazer parte do cotidiano e da educação das crianças e jovens, não apenas nesta fase de quarentena.
Crianças muito pequenas desde os 2 ou 3 anos são capazes de guardar parte dos seus brinquedos e devem ser estimuladas a participar de tarefas simples como tirar a mesa, auxiliar na cozinha, dobrar roupas, pendurar roupas em varal baixo, se vestir.
Criar rotinas, definir horários ou períodos do dia para as tarefas e criar uma tabela conjunta de atividades são idéias que podem ajudar. Dependendo da quantidade de filhos é possível fazer um revezamento nas atividades, respeitando as suas capacidades e interesses quando possível, de forma que seja justo com todos.
Adolescentes podem lidar muito mal com o isolamento minimizando os riscos do contágio ou ficando hipervigilantes, reagir com irritabilidade acentuada, impulsividade e raiva. Podem buscar refúgio nas telas/ smartphones de forma não saudável e passar muito tempo na internet.
Embora questões práticas tenham a sua importância, conversar sobre sentimentos e dar espaço para a sua expressão são aspectos fundamentais neste momento.
Os impactos de curto e médio prazos desta fase na saúde mental serão minimizados se estivermos conectados de forma verdadeira e profunda com pessoas significativas. E para se estabelecer conexão é necessário dedicação de tempo, energia e afeto. É um investimento que vale a pena.
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