O afastamento social, por conta da pandemia do coronavírus, teve início em março deste ano e completa seis meses em vigor. A regra – necessária e importante – orientada pelas autoridades de saúde para controlar a disseminação do vírus, trouxe consequências duras, que afetam também as crianças em desenvolvimento.
A rotina, fator importante na primeira infância, foi totalmente afetada pela crise sanitária. Mesmo os pequenos que não frequentavam a escola sofrem com as mudanças.
Estudo realizado recentemente por uma universidade chinesa sobre os efeitos do estresse da pandemia no desenvolvimento infantil apontou que 36% dos pais perceberam dependência excessiva dos filhos. O levantamento ainda mostra que 21% das crianças tiveram problemas no sono; 18%, falta de apetite e 13% ficaram mais agitadas no período de isolamento.
Segundo o ortopedista pediátrico David Nordon, os brasileirinhos que estão na fase de aprender a falar e a andar têm apresentado mudanças.
“Com a restrição do convívio social, houve aumento nos relatos dos pais sobre atrasos na fala, alterações de sono, humor, apetite, maior irritabilidade e dependência. Além disso, em alguns casos, comentam sobre a regressão etária. A ausência de contato com outras crianças atrasa esse desenvolvimento social tão importante nesse estágio da vida”, explica Nordon.
O médico ainda ressalta que, “presas” em pequenos espaços, sem contato com o mundo exterior, essas crianças ficam desestimuladas e o avanço das suas habilidades motoras é comprometido.
“É essencial a experiência de subir ladeiras, balançar, correr, pular. Existe também o estímulo sensorial que, por conta do isolamento, fica restrito. A sensação de pisar descalço na grama e na areia, que auxiliam o desenvolvimento do equilíbrio, por exemplo, não pode acontecer nesse momento”, explica.
Com a suspensão dos passeios e brincadeiras ao ar livre, os parques e praças estão em baixa, assim como o “estoque” de vitamina D diária, tão importante para o organismo humano, inclusive para a manutenção da imunidade. Por outro lado, fatores prejudiciais à saúde estão em alta, como o aumento de peso e as dores no corpo causadas pelo sedentarismo.
Quem estava aprendendo a nadar, a andar de bicicleta ou qualquer outra prática esportiva, teve de parar. De acordo com o médico, isso é muito frustrante. A nova rotina – permanecer em casa constantemente – na companhia de adultos, que também estão exaustos e desmotivados, interfere muito na condição física e emocional dos pequenos.
“Não existe receita de bolo para nada. No entanto, o cenário exige muito equilíbrio. Lidar com as próprias angústias já é difícil. Imagine então ter filhos angustiados! Ser paciente, conversar – mesmo com os menorzinhos é essencial já que eles entendem as nossas expressões faciais e tom de voz. E, dentro do possível, mantenha o corpo e a mente dessa criança ativos”, finaliza Nordon.
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